A partir de 1492, as jovens nações européias se lançam à conquista do Globo e através da aventura da guerra, da morte, suscitar a era planetária.
Copérnico concebe o sistema que faz girar os planetas, inclusive a Terra, em volta deles mesmos e em volta do sol. Eis, portanto, os começos do que chamamos Tempos Modernos, e que deveria chamar-se era planetária. A era planetária começa com a descoberta de que a Terra não é senão um planeta e com a entrada em comunicação das diversas partes desse planeta.
A Europa deve reconhecer a pluralidade dos mundos humanos e a provincialidade da área judaico-islamo-cristã. Assim como a Terra não é o centro do cosmos, a Europa não é o centro do mundo. Sobretudo tal revolução não revolucionará verdadeiramente o mundo oeste-europeu onde ela surgiu: este irá esquecer sua provincialidade ao instalar seu reino sobre o planeta; ira esquecer a provincialidade da Terra ao se convencer de que a ciência e a técnica farão dele o senhor do mundo.
Os começos da era planetária.
A era plantaria começa pelas primeiras interações microbianas e humanas, depois pelas trocas vegetais e animais entre Velho e Novo Mundo. Os vírus que disseminam doenças lançam-se sobre os ameríndios. Os europeus introduzem em seu solo o milho, a batata, o feijão e etc. levam para a América os carneiros, os bovinos, os cavalos, os cereais, e etc. a América se povoa de herbívoros domesticados e se entrega à cultura intensiva do algodão, da cana-de-açúcar e do café.
A Europa conhece um desenvolvimento acelerado. As trocas se intensificam dentro dela. As cidades, o capitalismo, o Estado-nação, depois a indústria e a técnica, ganham um impulso que nenhuma civilização conheceu ainda. Através de guerras, os paises europeus desenvolveram um formidável poderio econômico, marítimo, militar, em especial a Inglaterra, que a partir do séc. XVIII, irá cobrir o Globo.
A ocidentalização do mundo começa tanto pela imigração de europeus nas Américas e na Austrália quanto pela implantação da civilização européia, de suas armas, de suas técnicas, de suas concepções, em todos os seus escritórios, postos avançados, zonas de penetração. A era planetária se desenvolve através da violência, da destruição, da escravidão. É a idade de ferro planetária, na qual estamos ainda.
Ocidentalização do Mundo.
No séc. XIX, a idade de ferro planetária é marcada pelo formidável desenvolvimento do imperialismo europeu, em primeiro lugar britânico, que lhe assegurava o domínio do mundo. As nações que haviam se emancipado, na América ou em qualquer outro lugar do mundo, nasciam de acordo com as normas e concepções da Europa ocidental. Assim, através do colonialismo e da emancipação das colônias de povoamento, a ocidentalização do mundo marca a nova fase da era planetária. O surto econômico faz com que, aos poucos, a economia se torne mundial acirrando as concorrências e os conflitos.
A mundialização das Idéias.
A mundialização das idéias se opera, inicialmente, com as religiões universalistas, pois estas, se abriam para todos os homens da Terra. No séc. XVIII, o humanismo das Luzes atribuiu a todos os seres humanos um espírito apto à razão e lhe confere uma igualdade de direitos. As idéias da Revolução Francesa, ao se generalizarem, internacionalizam os princípios dos direitos do homem e do direito dos povos. No séc. XIX, a teoria evolucionista de Darwin faz de todos os seres humanos os descendentes de um mesmo primata, e as ciências biológicas vão reconhecer a unidade da espécie humana. Se se admite a unidade da espécie humana, tende-se também a compartimentá-la nas raças hierarquizadas em superiores e inferiores. Se o direito dos povos é reconhecido, certas nações se julgam superiores e se dão por missão guiar ou dominar toda a humanidade.
A mundialização pela guerra.
O processo de mundialização faz com que, em algumas regiões do mundo, tenhamos conflitos entre diversas nações; são os interesses locais contrários ao interesse mundial, fazendo da guerra um laço que une os povos através da morte. A guerra torna-se total, mobilizando militarmente, economicamente e psicologicamente as populações, devastando os campos, destruindo as cidades, bombardeando as populações civis.
Da esperança à ameaça damocleana.
Imensas esperanças num mundo novo, de paz e de justiça, ganham corpo com a destruição do nazismo após a segunda grande guerra. Esperança que não se confirmou, pois, logo em seguida o mundo encontrava-se dividido em dois blocos, travando em toda parte do planeta, uma guerra ideológica sem remissão. O medo de um conflito nuclear fazia-se presente em meio à população. Com o desmoronamento do totalitarismo do leste, os problemas da economia dos paises subdesenvolvidos não se resolveram e nem produziu naturalmente uma ordem pacifica no planeta. O que temos presenciado, nos últimos anos, é o progresso, o desenvolvimento tecno-industrial que degrada, polui os rios e o ar, comprometendo a vida neste planeta. Assim, uma morte de um novo tipo se introduziu na atmosfera de vida da qual a humanidade faz parte.
A mundialização econômica.
A economia mundial é cada vez mais um todo interdependente: cada uma de suas partes tornou-se dependente do todo, e, reciprocamente, o todo sofre as perturbações e vicissitudes que afetam as partes.
A mundialização econômica unifica e divide, iguala e desiguala. Os desenvolvimentos do mundo ocidental e do leste asiático tendem a reduzir nessas regiões as desigualdades, mas essa desigualdade aumenta em escala global, entre os desenvolvidos e subdesenvolvido; Com isso, as crises sociais aumentam consideravelmente. O desemprego e a violência atingem índices extremamente elevados, forçando a população a desenvolver outros métodos de sobrevivência, muitos desses métodos, acabam tornando-se ilegais.
O holograma.
Não apenas cada parte do mundo faz cada vez mais parte do mundo, mas o mundo enquanto todo está cada vez mais presente em cada uma de suas partes. Isso se verifica não só para as nações e os povos, mas também para os indivíduos. Da mesma forma que cada ponto de um holograma contém a informação do todo de que faz parte, doravante cada indivíduo também recebe ou consome as informações e as substâncias vindas de todo o universo. Geralmente, tais informações, são consumidas por pessoas que, de alguma forma, possuem condições para isto. Tal afirmação deve-se ao fato de estarmos todos inseridos no contexto planetário; mas isto não significa, que tenhamos, todos, as mesmas condições de vida. Dessa forma, trabalhamos e produzimos, mas não fazemos parte deste circulo de conforto planetário, pois, não possuímos meios para tal realização.
Os esboços de uma consciência planetária.
A despeito de todas as regressões e inconsciências, há um esboço de consciência planetária, na segunda metade do séc. XX, a partir de:
1. A persistência de uma ameaça nuclear global, pois, o medo de uma guerra nuclear nos leva a uma consciência planetária.
2. A formação de uma consciência ecológica planetária: É preciso avaliar a nossa maneira de desenvolvimento, isto porque, as degradações e poluições, fazem com que tenhamos que conviver com a ameaça constante de um planeta cada vez mais aquecido pelo efeito estufa.
3. A entrada no mundo do terceiro mundo: a ocidentalização do mundo fez com que os paises subdesenvolvidos apresentassem algum desenvolvimento, embora a desigualdade social seja um problema grave, pois, na verdade esses problemas demografia, alimentação, desenvolvimento e etc. sejam sentidos cada vez mais como os problemas do próprio mundo.
4. O desenvolvimento da mundialização civilizacional: esta se desenvolve para pior e para melhor; para pior, acarreta destruições culturais irremediáveis, homogeneíza e padroniza os costumes, os hábitos, o consumo... Mas essa mundialização opera também para o melhor porque produz hábitos e costumes comuns através das fronteiras nacionais, étnicas e religiosas, rompendo com a incompreensão entre indivíduos ou povos.
5. O desenvolvimento de uma mundialização cultural: enquanto a noção de civilização recobre essencialmente tudo o que é universalizável: técnicas, objetos, habilidades, modos e gêneros de vida baseados no uso e consumo dessas técnicas e objetos, a noção de cultura recobre tudo o que é singular e original a uma nação.
6. A formação de um folclore planetário: ao longo desse século, os meios de comunicação produziram e difundiram um folclore mundial a partir de temas originais oriundos de culturas diferentes. O cinema torno-se arte e ao mesmo tempo indústria.
7. A teleparticipação planetária: o mundo chega diariamente em caleidoscópio aos lares, na hora da refeição, pelas imagens que nos mostra as notícias de todo o canto do planeta.
A Terra vista da Terra: o planeta Terra revelou-se recentemente aos olhares dos terráqueos. Doravante essa presença planetária, difundida e multiplicada nos jornais, pôsteres e camisetas, encontrou em cada um sua morada. Assim, de forma ainda intermitente, mas múltipla, a global mind se desenvolve.
Surgimento da humanidade.
A espécie humana e o planeta podem se revelar em sua unidade, não apenas física e biosférica, mas também histórica: a da era planetária. Migrações e mestiçagens, produtoras de novas sociedades poliétnicas, policulturais, parecem anunciar a Pátria comum a todos os humanos, mas as forças de rejeição permanecem muito fortes. A mundialidade aumenta, mas o mundialismo ainda mal desperta.
Ramos, Edu. Texto de
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