segunda-feira, abril 27, 2009

A "Odisséia Portuguesa".



Não poderíamos classificar os feitos heróicos desta pequena nação se não dessa forma. Uma “Odisséia”. Talvez esta comparação seja a melhor forma de entendermos a superioridade do povo português em relação à expansão ultramarina. Este feito é o que caracteriza, sem dúvida alguma, a capacidade portuguesa em sua auto-afirmação como Estado independente.
Para que possamos compreender o pioneirismo português, devemos analisar os diferentes aspectos relacionados à forma com que o país se encontrava à época das navegações. Para isso, faremos uma análise sobre o seu território, sua organização sócio-cultural, política e econômica.
Com seu território demarcado aproximadamente dois séculos antes da conquista de Granada por Fernando e Isabel; Portugal encontrava-se de frente para o atlântico, mas com 2/3 de seu solo demasiadamente rochosos, impossibilitando o seu cultivo. Poucos rios navegáveis e estradas terrivelmente más, até para os padrões medievais. Sua população oscilava em torno de um milhão de habitantes no final da Idade Média e no campo, a economia ainda era uma economia de troca. As diferenças regionais também se faziam presente, uma vez que ao sul os Mouros deixaram sua marca em diversos aspectos culturais de Portugal. O desenvolvimento de substantivos e vários termos econômicos, militares e administrativos, são, também, de origem árabe.
Os três estados representados nas Cortes eram a nobreza, o clero e o povo. Abaixo do poderoso clero, fidalgos, cavaleiros e proprietários rurais, mas acima da grande massa de camponeses e artesões não privilegiados, situavam-se as classes intermediarias, que incluíam: mercadores, advogados, médicos e oficiais da coroa. Os comerciantes portugueses tinham que competir com os grupos de mercadores estrangeiros, mas faziam-no com bastante êxito. A economia portuguesa passou a ganhar destaque com a inclusão dos portos do país nas rotas comercias. Com o renascimento do comércio desenvolveu-se em Portugal uma burguesia comercial e marítima que vieram para ser um elemento importante nas novas tendências sociais do país.
E à medida que o Estado se fortalecia, intervindo na economia comercial, preparando o caminho para o Mercantilismo, realizavam-se também as condições para as grandes viagens marítimas. Pois apenas no comércio atlântico o rei poderia buscar o metal precioso e necessário, para o fortalecimento de seu exército, sua armada e seu poder. Deve-se salientar que neste período o continente europeu passava por grave crise econômica que se faz sentir na ausência de ouro e de prata, motivo que levará Portugal a desafiar os mares.
Como podemos perceber a odisséia do “ilustre peito lusitano” começa em meio às dificuldades encontradas no continente europeu e em seu próprio reino, mas seu feito heróico está, justamente, em ser o grande desbravador, mesmo antes das futuras potências européias se consolidarem como Estado. Ao povo de Camões devem-se os conhecimentos náuticos e as riquezas encontradas no novo mundo; mas ao contrário do que diz o grande poeta lusitano, as lágrimas de Portugal não são maiores que as lágrimas dos povos conquistados na América e na África portuguesa.

Expansão Ultramarina.

· Influência da burguesia mercantil.
A expansão ultramarina portuguesa deve-se basicamente ao surgimento de uma classe burguesa preocupada em manter e/ou aumentar seus domínios de mercado. Devido a forte crise que a Europa estava vivendo, os caminhos por terra tornaram-se perigosos para os mercadores que passaram, então, a necessitar de uma nova alternativa de passagem para os pólos de comércio. Contudo, Portugal também necessitava de metais preciosos e mão de obra, pois a peste havia deixado um déficit humano muito grande em todo o continente europeu. Todas essas questões tornavam o comércio inviável, devido à escassez desses recursos, pois se tornava extremamente difícil as trocas à distância. Valendo-se da precoce formação do reino português, os mercadores conseguiram fortalecer-se como classe dominante e fazendo com que o reino contribuísse, de uma certa forma, para isso, pois à medida que o comércio crescia, a coroa também lucrava com impostos e por conseqüência disto, o poder real também aumentava. Portanto, o crescimento mercantil passou a ser prioridade para Portugal e para que isso acontecesse foram criados meios técnicos e políticos, facilitando o seu sucesso na conquista de novas rotas comerciais.

· Revolução burguesa.
Uma crise na dinastia cortesã ocorrida após a morte de D. Fernando, precipitou as lutas sociais no reino; pois este corria sérios riscos em cair nas mãos castelhanas. O grupo mercantil viu na submissão de Portugal a Castela uma ameaça à sua sobrevivência, dado o caráter feudal da monarquia castelhana. Com isso podemos analisar mais de perto a forte influência dessa classe em Portugal, pois vai ser dela a iniciativa de restabelecer o trono português em favor de um homem, Mestre de Avis, que vai recolocar as pretensões burguesas novamente em prática após ser coroado rei, dando continuidade ao projeto de expansão marítima.

· Condições políticas favoráveis.
Ao abrir-se o séc. XV Portugal aparecia como a primeira nação européia a possuir um Estado centralizado, forte e bastante voltado para o comércio. O Direito luso havia se modernizado e os poderes do soberano haviam crescido no sentido absolutista. A indiscutível sabedoria na navegação fez com que surgissem grupos de debates e estudos sobre o tema, conseqüentemente este conhecimento levou os portugueses a serem possuidores de novas técnicas de navegação e utilizando-as em seu proveito, realizaram aquilo que a classe mercantil mais esperava: a conquista de novas rotas de comércio.

· A expansão da fé.
O desejo de expandir a fé cristã seria sem sombra de dúvidas uma excelente desculpa para levar adiante a expansão territorial portuguesa. Mas até que ponto o desejo cruzadista se confunde ou se assemelha com o desejo de enriquecimento, ou simplesmente o desejo de poder? A expansão da fé, neste caso, nada tem haver com ela. Pois apelando para um sentimento coletivo (religião) é que os portugueses justificam os “meios”; mesmo que esses “meios” não sejam os apropriados para se justificar os inúmeros erros cometidos contra a humanidade.

Referências Bibliográficas.
· MENDES jr., Antônio. Brasil História, Texto e Consulta, vol. 1. São Paulo: HUCITEC, 1991.
· REVISTA CIÊNCIA HOJE, vol. 15 nº 86, 1992.
· BOXER, Charles R. O Império Colonial Português (1415-1825). São Paulo: Martins Fontes, 1981.

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